Necessidade: os evangélicos chamam os cânticos de “louvor”, uso mais restrito do que se encontra na Bíblia. Esta prática se infiltrou na igreja.
Tese: Nem todo louvor é cântico; nem todo cântico é louvor.
INTRODUÇÃO
- Como a Bíblia é nosso padrão em todos os assuntos espirituais, é também nosso propósito falar e usar a linguagem da Bíblia corretamente, usar termos bíblicos com o sentido bíblico.
- Um termo que cujo sentido ficou deturpado no mundo religioso é “louvor/louvar”. A igreja do Senhor também, em alguns lugares, adotou este uso incorreto.
- A partir deste uso, surgiram também frases, tais como: “ministério do louvor”, “dirigente do louvor”, e “equipe do louvor”.
- Façamos uma análise da Bíblia para corrigir nosso uso do termo.
I. NEM TODO LOUVOR É CÂNTICO.
- “Louvor” é um termo usado, não somente sobre Deus, mas também entre pessoas.
- Paulo usa o termo para falar dos coríntios (1 Cor. 11.2, 17; NVI: “elogio”).
- O governo “louva” os que fazem o bem. Os governantes são enviados por Deus “para punir os que praticam o mal e honrar [louvar] os que praticam o bem” (1Pd 2.13).
- Paulo usa “louvor” em sentido não musical em Efésios 1, na frase: “para o louvor da sua glória” (Ef 1.6, 12, 14). No v. 12 refere-se a nossas vidas: “a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória”.
- Em Atos 10.46, Cornélio e sua família estavam falando em línguas quando louvavam a Deus: “De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus” (Edição Pastoral). Parece que a música não está em mira aqui, pois estes gentios não conheciam, provavelmente, os hinos judaicos.
- Em Atos 4.21 o povo louvava a Deus pela cura por parte de Pedro de um aleijado: “todo o povo estava louvando a Deus pelo que acontecera”. Pela situação, não parece que estavam cantando.
- Lucas 23.47: “O centurião, vendo o que havia acontecido na morte do Senhor Jesus, louvou a Deus, dizendo: ‘Certamente este homem era justo'”. Mais uma vez, este pagão romano não seria conhecedor dos hinos dos judeus.
- Chamar todos os cânticos de louvor, portanto, é restringir demais o termo.
II. NEM TODO CÂNTICO É LOUVOR.
- Existe sim o cântico de louvor.
- Tiago 5.13 — “Entre vocês há alguém que está sofrendo? Que ele ore. Há alguém que se sente feliz? Que ele cante louvores”.
- Ef 5.19 fala no contexto da música: “louvando de coração ao Senhor”.
- Mas existem também cânticos que não são louvores. Há diversos tipos de cânticos usados pela igreja, para determinados fins, conforme Ef 5.19 e Cl 3.16.
TIPO FINALIDADE Salmos Os salmos do Antigo Testamento ou ao estilo destes (F.F. Bruce, Comentário Bíblico NVI, 1997), os quais incluem, além do louvor, lamentações, sabedoria, súplica Hinos “o louvor é mais destacado [por “hino”] enquanto ‘cântico’ é mais geral” (Bruce) Cânticos espirituais “para ensinar e exortar outros cristãos” (Jim Sheerer, NT Commentary, 836); “cânticos que expressam emoções espirituais” (B.W. Johnson, People’s NT) - Muitos cânticos (a maioria?) não são direcionadas a Deus, mas sim aos irmãos. Nas duas passagens principais sobre a música na igreja, citadas acima, o elemento humano se destaca mais do que o divino, isto é, a função de edificar mais do que a de louvar a Deus.
- Ef 5.19 — “falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor”.
- Cl 3.16 — “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações”. A língua original deixa claro que o ensino e aconselhamento mútuos são feitos por meio dos cânticos.
III. QUE DIFERENÇA FAZ?
- A prática de chamar os cânticos de “louvor” indica, ao que parece, uma super-valorização dos cânticos. Por que os cânticos são super-valorizados entre os evangélicos? Porque são mais facilmente convertidos de um “culto racional” para uma manipulação emocional. Nos cultos protestantes — e a Igreja Católica está seguindo essa onda, para não perder adeptos — o que predomina hoje em dia são os cânticos.
- Esta influência evangélica tem entrado na igreja do Senhor. Alguns falam da igreja de Cristo “renovada”; outros, de uma igreja mais animada.
- Não é preciso mais animação, mas sim mais consagração.
- Os que querem ser guiados pela Bíblia e que querem falar onde (e como) a Bíblia fala, usarão corretamente os termos no seu sentido bíblico.
Mensagem na congregação em Taubaté em fev/2011.
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